Que delicia ouvir as músicas da mineira Clara Nunes (1942-1983), dá a impressão que estamos num terreiro de umbanda sambando com os orixás. A voz suave da Clara tinha uma energia única, parecia de outro mundo. E vai ver que era. Lembro-me do meu pai ouvindo seus discos nos fins de semana em casa quando desmontava e montava a estante da sala - minha mãe tinha o abito de mudar tudo de lugar de tempos em tempos. Minha irmã Rosely também ouvia os discos da sambista filha de Iansã e Ogun.
Durante muitos anos passei os réveillons na praia de Santos com a minha família, e tínhamos o ritual de acender velas na areia para agradecer e pedir proteção à Iemanjá, além de pular as sete ondas. Os lugares na areia eram disputadíssimos, havia várias tendas de umbanda e candomblé. Após as saudações da virada e dos shows com fogos de artifícios, passeávamos pela beira da praia vendo aquele mar de velas acesas iluminando toda a orla. Era bonito demais. Em algumas tendas ouvia-se o batuque dos tambores, tamborins e pandeiros mesclados com as palmas e vozes das "baianas" e dos "pais de santo". Esses sons me lembravam das músicas da Clara. Entre elas, destaco uma faixa do álbum Claridade, de 1975, produzida em vídeo para o Fantástico. Salve Clara Nunes!
O Mar Serenou
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