Nos anos 1988 e 1989, eu e meu primo Maurício aproveitávamos as férias de julho para irmos para a balada. Ele morava com meus tios numa chácara perto do trevo antigo de Piracicaba. A única maneira de chegar ao centro da cidade era de ônibus ou de carona com o meu outro primo Marcelo, que já tinha carta e namorava. O point ficava perto do centro. Descíamos na Rua Quinze de Novembro e traçávamos o habitual roteiro: boteco, balada e lanche. O primeiro ponto era o boteco, Pilequinho, encomendávamos um litrão de batida de sorvete de morango com vodka. Tudo de bom. Às vezes variávamos com uma batida de amendoim ou de coco. Depois de encher o caneco, partíamos para o segundo ponto, a balada na Croco. A Croco era mais popular, havia outra balada próxima a esta, a Mr. Dandy, que tinha como público os burguesinhos da cidade. Bom, chegando à balada, atacávamos o bar. Primeiro uma coca, depois caiamos de cabeça na cerveja e em drinks como Alexander, Menta ou Campari. Ao som dos anos 1980, fervíamos na pista de dança. É claro que a bebida e o cigarro ajudavam a quebrar a timidez e sair azarando as garotas.
Na pista havia um telão onde passavam os clips dos astros da vez: Madonna, George Michael, Michael Jackson, Tina Turner, David Bowie, Pet Shop Boys, The Cure, A-ha, New Order, Erasure, Prince, Depeche Mode, Duran Duran, Information Society, Paula Abdul, Rick Astley, Peter Gabriel, Kon Kan, Bananarama, Queen, The Police, The Bolshoi, Bronski Beat, Tears for Fears, Culture Club, Swing Out Sister, Dead Or Alive, The Pretenders, Cyndi Lauper, The Smiths, The B-52s, Simple Minds, Simply Red, Billy Idol, U2...
Ufa! A lista é grande e não para por ai. Voltando, a balada acabava por volta das três da matina. A essa hora o frio era insuportável, não tinha jeito, antes de sair de lá, tinha que ter a saideira. Ficávamos trebados. O passo seguinte era forrar o estomago. Subíamos uma avenida grande, que dava em outra maior ainda, até chegar no trailer de lanches Trevo. Você não tem noção do que era o lanche de lá. X-TUDO com hambúrguer, queijo, presunto, ovo, linguiça, frango, bacon, salada, purê e fritas. Quatro andares de lanche. E a maionese feita por eles? Cremoooooosa. Vinha dentro de um tubo branco, do tipo de mostarda e de catchup. Acho que eu comia o lanche só por causa da maionese. Bom, e dá-lhe coca e guaraná, e para arrematar, o cigarrinho. E não parava por ai. De lá, voltávamos a pé para a chácara. No caminho, muitas paradas, muito cigarro, cantoria e besteira. De vez em quando deitávamos no chão para contemplar o céu estrelado de inverno. Cruzeiro do sul, Três Marias, Vênus, Marte, Lua, constelações e tudo mais que um céu de interior pode oferecer. Era mágico.
Eita férias que não sai da memória. As melhores, sem dúvida.